Neguinho do Rap lança CD “Liberdade conquistada”

20 de novembro de 2009 - 15:01

Neguinho do Rap, egresso do sistema penitenciário do Estado do Ceará, lança seu primeiro CD, “Liberdade conquistada”, no sábado, 21 de novembro, às 20 horas, no Clube do Sargento, localizado na Avenida Francisco Sá, 7880. Neguinho do Rap, como ficou conhecido, cumpriu oito anos de prisão por sequestro na maior unidade penitenciária do Estado, Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS). As experiências vividas durante esse período foram sendo transformadas em letras de Rap. Vacilo, sofrimento e morte são algumas temáticas retratadas. Nas letras, ele procurava colocar o que estava vivendo naquele momento, “para que a moçada da periferia, das favelas, saberem que o crime não é bom”.

Neguinho nasceu em Recife, mas com 9 meses de vida foi para São Paulo, onde viveu em uma favela com mais de 30 mil barracos. Lá, crianças com 13 anos, vendendo droga, com armas nas mãos, é cena comum. Maravilhado com a idéia de ter dinheiro, um carro “massa”, uma “motona”, casa com piscina, Neguinho começou a se envolver com o crime. Passou, então, a roubar carros. Mas certo dia recebeu um convite mais ousado, fazer uma “fita” no Ceará. Foi quando fez o seu primeiro assalto a banco, em Redenção. Cerca de um ano depois, acabou sendo preso por esse crime. “Em 2001, quando eu caí nesse seqüestro, eu sabia que eu ia ficar mais de dez anos preso, então eu falei pra mim mesmo: aqui eu posso me regenerar. Não que o sistema regenere, porque na verdade o sistema não regenera, a gente tem que ter consciência disso”. Foi quando a música entrou em sua vida.

Uma das músicas, chamada “Eu sou Neguinho do Rap”, ele fez baseado no sequestro. “Eu sou o Neguinho do Rap, já fui ladrão dos bons, gostava de maconha e de curtir som. Eu lhe aconselho, não siga o meu caminho, na trilha que eu passei, só encontrei espinhos. Eu vou te falar um pouco dessa vida, ela é cruel e muito sofrida. Eu vim lá da favela e sou considerado, tenho um par de amigos, outros embaçados. Lembro dos amigos, que pro céu partiram, foram assassinados, por um sangue frio. Eu que não me esqueço, jamais esquecerei, da periferia, da favela onde morei. Esse labirinto faz doer meu coração, crianças na favela sem nenhuma educação. Hoje eu sou detento, interno do IPPS, a polícia me tortura e a justiça me esquece”. Neguinho diz que em suas letras procura cobrar do poder público o esquecimento e o abandono das periferias.

 
Hoje, quando chega em casa, em uma favela no Vila Velha, em Fortaleza, as crianças e os adolescentes o procuram dizendo que querem fazer Rap. Ele, então, coloca uma caixa de som e um microfone e começa a dar idéia de letras de Rap e o que é o Rap. “O Rap não é só cantar, o Rap é você poder ajudar uma pessoa, poder explicar o que é o crime, tirar a molecada da rua e tentar ajudar da melhor forma possível, porque na verdade a gente pode tudo, é só ter força de vontade, com força de vontade as coisas acontecem”, disse. Nos anos em que permaneceu na prisão, Neguinho aprendeu a ler e a escrever e, através da música, recuperou a dignidade e encontrou novas possibilidades de expressão e resgate da liberdade.

Mais informações: 9669.0623 ou 3282.2689

Ascom – Sejus