Cadeia Pública de Ubajara abre as portas para projeto teatral com internos
2 de maio de 2017 - 12:52
A arte é ampla, livre, viva, e pode alcançar lugares jamais antes imaginados. No mês de abril, a Cadeia Pública de Ubajara foi um desses espaços e transformou-se em palco de teatro para 14 internos que participaram de um projeto guiado por um professor voluntário da cidade. Nas celebrações de Páscoa, a unidade abriu as portas para visitantes e internos viverem momentos de emoção durante uma encenação da Paixão de Cristo.
A iniciativa partiu do administrador da unidade, Deusdetith de Morais, que, à procura de uma ocupação para os internos, entrou em contato com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município em busca de parcerias.
O professor de teatro do CRAS, Paulo Roberto Alves, aceitou o convite. Paulo conta que, por trabalhar com pessoas em situação de vulnerabilidade sempre se interessou por atividades com presos e viu na proposta de Deusdedith a oportunidade de colaborar com uma transformação da realidade dentro da cadeia. “Antes de iniciar os trabalhos, me preocupava com o interesse deles pelos ensaios e pela execução da peça, mas logo no começo eles me surpreenderam com a adesão e a fidelidade à maioria das atividades”, conta.
Os ensaios tiveram início dois meses antes da apresentação e aconteciam às terças e quintas. Segundo o professor, a vontade dos internos sempre foi visível e eles participaram com sugestões, colaborando com a execução de cada etapa do processo.
Paulo Alves emociona-se ao contar que percebeu que, para os internos, a consequência mais dolorosa da privação de liberdade é o esquecimento, seja por parentes ou pela própria população. Se sentindo à margem e sem oportunidades de recuperação, os internos alcançados pelo projeto encontraram no teatro uma ferramenta poderosa de transformação dessa realidade: “No dia da apresentação, a população veio prestigiá-los e, para eles, foi um momento de euforia. O sentimento de abandono foi amenizado e eles se sentiram acolhidos de alguma forma”, conta Paulo.
De acordo com Deusdedith, administrador da Cadeia, a rotina dos internos foi alterada positivamente, incluindo até melhorias no comportamento: “Com a execução do projeto conseguimos diminuir a ociosidade. Com ocupações em horários determinados, a disciplina também foi aprimorada”, conta.
Para o mês de maio, já está sendo planejada uma programação de dia das mães com apresentações de coral e literatura. O professor celebra o saldo positivo e reafirma os benefícios das atividades: “Cada interno alcançado por um projeto social pode ser uma pessoa a menos oferecendo riscos à sociedade. O teatro transforma, leva riso, alegria, e é essencial que se tenha esse contato com novas possibilidades mesmo em um ambiente carregado como a prisão”.