Artesanato produzido por internos do sistema prisional do Ceará participa da 7ª Feira Nacional de Artesanato e Cultura
10 de setembro de 2025 - 16:26
O artesanato produzido por internos de seis unidades prisionais do Ceará ganha destaque na 7ª Feira Nacional de Artesanato e Cultura (Fenacce), que acontece de 9 a 14 de setembro no Centro de Eventos do Ceará. O estande da SAP reúne mais de 250 peças artesanais expostas e comercializadas, promovendo o talento e o trabalho de pessoas privadas de liberdade.
A iniciativa é resultado dos projetos “Arte em Cadeia” e “Reciclarte”, geridos pela Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso (COISPE). Entre os produtos expostos estão almofadas de chita, mochilas em patchwork, jogos americanos de vagonite, peças em ponto cruz, além de bolsas em macramê e crochê. A ação busca estimular a criatividade e a capacitação profissional dos internos, além de promover a ressocialização e a geração de renda, valorizando a arte no sistema prisional.
A coordenadora de Inclusão Social do Preso e do Egresso (COISPE), Cristiane Gadelha, fala sobre a feira. “É uma grande alegria participar mais uma vez da Feira e mostrar o trabalho potente que é desenvolvido dentro do sistema penitenciário. O artesanato produzido dentro do sistema prisional no Ceará tem alcançado mais de 2.300 internos e internas de 14 unidades prisionais. Um trabalho belo e incansável da nossa arte-educadora Luciana Eugênio, que percorre todas as unidades orientando e desenvolvendo os produtos. Ver o público elogiando, comprando e valorizando essas peças nos mostra que o artesanato continua sendo um dos pilares da ressocialização, oferecendo aos internos uma real oportunidade de trabalho e geração de renda quando ganharem liberdade. É um esforço diário, mas o retorno é muito gratificante”, afirma.
A arte-educadora e coordenadora da produção do projeto Arte de Cadeia, Luciana Eugênio, comemora mais um ano de participação na feira. “É muito gratificante ver nosso trabalho exposto num evento como o FENACCE, que reúne o melhor do artesanato brasileiro. Estar aqui, no mesmo nível de tantos artesãos reconhecidos, mostra que o que é feito dentro das unidades prisionais também tem valor e qualidade. Sempre digo aos internos que não cobro quantidade, mas sim capricho e criatividade — porque é isso que mostra ao mundo o potencial que existe lá dentro. Cerca de 80% do que produzimos é feito com material reciclado, e transformar isso em peças atuais, usáveis e bonitas é uma conquista enorme. O mais especial é ver que eles se importam, querem saber se as peças venderam, se o público gostou. Levo esse retorno para eles, porque mesmo à distância, eles também precisam sentir esse reconhecimento”, atenta.
A orientadora da Célula de Produção Artesanal da CEART, Ticiane Gomes, comenta sobre a presença da SAP na feira. “É muito significativo ver esse trabalho sendo exposto numa feira nacional. Quem está aqui fora muitas vezes não tem ideia do que é produzido dentro das unidades prisionais. Quando a gente vê o artesanato sendo feito com tanta qualidade e dedicação, por pessoas privadas de liberdade, e ainda com a possibilidade de oficializar esse trabalho com carteira de artesão, percebemos que a ressocialização está acontecendo de verdade. E o mais bonito é ver essas pessoas, depois que saem, buscando oportunidades e querendo continuar nesse caminho”, disse.
A cliente e também artesã, Idalba Cruz, conheceu o projeto “Arte em Cadeia” e se surpreendeu com a iniciativa. “Fiquei muito surpresa ao ver um trabalho tão bonito sendo feito por pessoas que estão dentro do sistema prisional. Esse tipo de arte tira da mente deles tudo o que é ruim, traz paz, traz propósito. Às vezes, tudo o que a pessoa precisa é de uma oportunidade para mostrar que tem valor, que sabe trabalhar. Eu acredito que é Deus quem dá essa sabedoria e está usando esses internos lá dentro, transformando a realidade deles por meio do artesanato”, afirma.
Artesanato no sistema prisional: mais que uma atividade, uma transformação
No Ceará, o artesanato é uma das principais atividades oferecidas aos internos, que além de expressar seu lado artístico, desenvolvem novas competências profissionais e elevam a autoestima. A prática ainda contribui para a ocupação produtiva do tempo, a perspectiva de um futuro melhor e a remição da pena.
A Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização, por meio da Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso (Coispe), fomenta essas ações com os projetos “Arte em Cadeia”, “Rede Artesã” e “Reciclarte”. Juntos, eles promovem cultura, qualificação e reinserção social para centenas de internos.
O projeto Arte em Cadeia envolve cerca de 800 participantes distribuídos em seis unidades prisionais no Ceará, que produzem mensalmente aproximadamente 2 mil peças artesanais, totalizando mais de 20 mil itens por ano. Essas peças são confeccionadas em 17 oficinas e comercializadas em diversos pontos de venda em Fortaleza, como Emcetur, RioMar Kennedy, Shopping Benfica, Feirinha da Beira Mar, Seduc, FIEC – Fórum Autran Nunes e Parque Adahil Barreto. Além disso, o artesanato produzido dentro do sistema prisional no Ceará tem um impactado mais de 2.300 internos e internas de 14 unidades prisionais. Além da capacitação profissional oferecida, que inclui o desenvolvimento de habilidades técnicas e artísticas, os internos têm direito à remição de pena, na qual a cada três dias trabalhados um dia é reduzido da pena total.
As vendas geram recursos que são depositados no Fundo Rotativo do Sistema Penitenciário Cearense (FUROPEN), criado pela Lei Estadual nº 17.610, de 2021, e que financia a manutenção das unidades prisionais e ações de reinserção social. Dessa forma, o projeto não só promove a ocupação produtiva do tempo e a qualificação profissional dos participantes, mas também contribui para a sustentabilidade financeira do sistema prisional e a construção de oportunidades para a ressocialização.
O “Rede Artesã” atua de forma complementar, fortalecendo os vínculos familiares e a economia doméstica. As peças produzidas são entregues aos familiares para comercialização, gerando uma renda extra e ampliando o envolvimento da família no processo. O material para a confecção — agulhas, botões, linhas e fios de malha — é fornecido pelos próprios familiares, facilitando a produção de uma grande variedade de itens.
Já o “Reciclarte”, iniciado na Unidade Prisional Francisco Hélio Viana de Araújo (UP-Pacatuba), tem como foco a reutilização de resíduos têxteis doados pela empresa Malwee, instalada no sistema prisional. Sob a coordenação da artista Socorro Silveira, os internos aprendem técnicas de reaproveitamento sustentável, transformando resíduos em peças artísticas, alinhando arte e consciência ambiental.