Internos da Unidade Prisional Irmã Imelda emocionam público com espetáculo “A Grande Aula” no Teatro Morro do Ouro

14 de novembro de 2025 - 10:29

O Teatro Morro do Ouro, um dos espaços de espetáculos que integram o complexo do Theatro José de Alencar, foi palco de um momento marcante durante a 23ª edição da Mostra Brasileira de Teatro Transcendental. Dentro da programação do projeto Transcendental Inclusivo, os internos e internas da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes apresentaram o espetáculo “A Grande Aula”, encenado pelo grupo “Falando Portugays”, emocionando o público e reforçando o poder transformador da arte.

A montagem, produzida e encenada pelos próprios internos, trouxe à cena uma narrativa de reflexão, superação e esperança. Por meio do teatro, os participantes puderam expressar suas vivências e redescobrir novas possibilidades de reconstrução pessoal e social. A iniciativa evidencia o compromisso do projeto em utilizar a arte como ferramenta de inclusão e reintegração.

O Transcendental Inclusivo, ação que integra a Mostra Brasileira de Teatro Transcendental, une arte e solidariedade em uma programação acessível e transformadora. Todos os espetáculos contam com interpretação em Libras e audiodescrição, garantindo que pessoas com deficiência também possam desfrutar plenamente da experiência teatral.

Com “A Grande Aula”, o público não apenas assistiu a uma apresentação, mas testemunhou o impacto da arte na vida de quem busca recomeçar. O resultado foi uma tarde de emoção e inspiração, em que o teatro cumpriu seu papel mais profundo — o de transformar vidas e promover empatia.

O diretor da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, Paulo César, comemora mais um sucesso do teatro. “É uma satisfação poder contribuir com mais uma apresentação do nosso grupo teatral. Quero agradecer pela oportunidade de dar continuidade a esse trabalho, que envolve os servidores e internos, fortalecendo a ressocialização por meio da arte. Registro meu agradecimento ao secretário Mauro Albuquerque, pela confiança e por garantir a continuidade do projeto, conduzido pela diretora Milana, que tem sido fundamental na transformação de vidas dentro da unidade. Também agradeço aos policiais penais que estiveram presentes e deram suporte à atividade. Esse trabalho só é possível graças à atuação coletiva, que valoriza a educação, a cultura e a inclusão”, concluiu. 

A curadora da Mostra Brasileira de Teatro Transcendental e responsável pela seleção dos espetáculos, Joana Angélica, ressalta a importância da iniciativa. “Foi uma experiência profundamente emocionante. Tivemos depoimentos de pessoas trans que passaram pelo grupo de teatro e hoje estão fora do sistema prisional, falando sobre como o teatro foi essencial para a ressocialização e a reconstrução de suas vidas. O público também se emocionou. Professores e alunos da UFC, representantes de grupos de teatro, uma escritora do Piauí e até pessoas cegas que acompanharam a audiodescrição relataram o quanto foram tocados pela apresentação. Como curadora, fiz questão de viabilizar o espetáculo da unidade. O cachê de R$ 4 mil foi transformado em materiais que o grupo realmente precisava — cenário, figurinos, maquiagem e equipamentos para o salão de beleza que eles estão montando como espaço de aprendizado e renda”, afirma.

A egressa e ex-integrante do grupo de teatro “Falando Portugays”, da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, Adrya Borboleta, se emocionou ao assistir, agora como parte da plateia, ao espetáculo apresentado pelos internos. “Hoje estou aqui para prestigiar esse teatro maravilhoso, do qual já tive a oportunidade de participar. Esse projeto traz vida, esperança, alegria e, principalmente, socialização. Muita gente não imagina o quanto isso transforma — mas transforma. Quando estamos em cena, nos sentimos mais dignos, mais felizes, e conseguimos expressar, por meio da arte, tudo o que carregamos dentro da gente. Agora, em liberdade, eu agradeço a Deus por poder estar aqui, torcendo pelos meus amigos que continuam lá. Desejo que todos conquistem a liberdade, mas uma liberdade construída com propósito, com esforço, com vontade de recomeçar”, afirma.

A integrante do grupo de teatro “Falando Portugays”, Sabrynna Santory falou com emoção sobre o significado de participar do projeto e o impacto da arte em sua trajetória. “O que o teatro nos traz, mesmo dentro do sistema prisional, é a certeza de que, apesar de estarmos privados de liberdade, ainda podemos fazer arte, criar histórias e nos expressar. Atuar é muito importante para mim, porque antes eu tinha um passado difícil, mas hoje entendo que, mesmo lá dentro, posso socializar e mostrar que posso ser uma nova pessoa. Quando eu sair, quero continuar nesse caminho. A arte me salvou. Hoje posso dizer que sou uma pessoa socializada. Quando saio para os ensaios, percebo que a cadeia não é o fim. Ela é apenas um momento. A gente pode continuar, pode recomeçar, e mostrar que é possível ser uma nova pessoa”, disse.