Egressos concluem curso de arte urbana e presenteiam mural para a Sejus

25 de agosto de 2011 - 20:25

Na reta final encontra-se o Curso de Desenho e Serigrafia que a Secretaria da Justiça e Cidadania oferece a custodiados do sistema penitenciário. Iniciado em 18 de julho, a conclusão ocorrerá nesta sexta-feira, 26 de agosto de 2011, com a apresentação de um mural, que ficará permanente na infra-estrutura da sede da Sejus, do lado da quadra pela Rua Ildefonso Albano, esquina com a rua Deputado Moreira da Rocha. A peça está sendo executada, simultaneamente, pelos concludentes do Curso, e receberá as devidas assinaturas.

 

Oito painéis, em 30 metros, fazem parte da composição. Após as aulas teóricas de desenho, sobre história da arte, história de quadrinhos, estilos de narrativas, idéias, imagens, preparação de desenhos; das aulas práticas envolvendo o uso do material de desenho, criação e desenvolvimento de arte seqüencial, técnicas utilizadas em quadrinhos, desenho animado, story-board, preparação do desenho, prática e estúdio de serigrafia, foram ministrados os ensinamentos nos dias 22 e 23 de agosto a respeito criação de mural coletivo, abordando as técnicas de pintura e graffiti, produção de stencil, sticker dentre outras.

 

Como parte da grade de programação os alunos tiveram a oportunidade de realizar, pela primeira vez, em suas vidas, a uma exposição, que ocorreu no Sobrado Dr. José Lourenço, em Fortaleza, na Rua Major Facundo, 154, quando foram recebidos pelos educadores da casa e receberam aulas dos instrutores do curso, os artistas plásticos Franklin Stein e Weaver Lima. Em outras ocasiões, participaram de palestras no auditório da Sejus.   

 

 

A inserção social dos egressos, após o cumprimento da pena, por meio da capacitação em arte e cultura, despertando-os para o empreendedorismo individual, com a possibilidade certa de uma renda familiar estão entre os objetivos dos cursos desenvolvidos pelo Núcleo de Apoio ao Presidiário e Assistência ao Egresso (NAPAE)/Sejus, que desta vez contou com o apoio do grupo Coletivo Monstro, nas atividades de serigrafia, proporcionando, inclusive, visita a uma fábrica de camisetas serigrafadas.

 

Qual é a sua prisão?

 

Qual é a sua prisão? Foi a proposta para a execução do mural de 30 metros na Rua Ildefonso Albano, com o encerramento do curso, quando os alunos têm a chance de colocar o seu talento inato e aprendido, falou o instrutor Weaver Lima. E prossegue: “achei interessante a forma como eles se comportaram, formando em um primeiro passo um grupo, numa reunião, definindo tudo e depois dizendo quais obrigações ficariam para cada integrante – fizeram como o nosso trabalho no Grupo MONSTRA., criaram um método idêntico. Isto foi muito bom”.

 

Explica que o muro “é o resultado do grupo deles, não teve interferência nossa, com autonomia total de expor os sentimentos. A idéia então está na pergunta – Qual é a sua prisão? O álcool? A luxuria? A prostituição? Eles querem dizer, que não só existe a prisão física, mas também a espiritual, que as pessoas aqui fora não enxergam”.

 

Para Franklin Stein “o mais legal de tudo é quando a gente passa a conhecer mais esses nossos alunos e quando eles descobrem que podem e têm a capacidade de fazer, que achavam complicado e impossível, e se surpreendem dizendo para a gente, da realização de algo que parecia distante. O melhor também  é que o retorno está sendo imediato”.

 

“Ficamos felizes porque as pessoas que estão passando aqui na rua, os motoristas até param, comentando que é a obra é muito interessante. Todos gostam, parabenizam e pedem os telefones desses novos artistas. A minha satisfação é ter a oportunidade de ampliar o leque de possibilidades para eles no futuro, bem próximo, com a liberdade”.

 

Novos talentos

 

Considerado um talento pela capacidade e técnicas de expressão Kleber Vieira diz que: “eu vejo através deste trabalho que a Secretaria da Justiça e Cidadania junto com a sociedade estão vendo que os encarcerados precisam de mais oportunidades para sair desta vida e eu estou procurando dar o melhor de mim. As pessoas mesmo estando aqui fora, também podem se sentir pressas – pelo álcool, drogas, dinheiro, prostituição – e estes são os motivos do nosso mural”.

 

Quando fala do lado espiritual ressalta: “hoje eu me sinto livre, mesmo estando numa prisão. Hoje a verdadeira  liberdade não é a física, mas a espiritual que só encontramos com Jesus Cristo. Eu, por exemplo, já participei do trabalho de pintura na Creche Irmã Marta, no Instituto Penal Feminino, após a reforma do prédio. Eu e mais dois colegas fizemos toda a decoração, retratando os personagens das histórias do Maurício de Souza”.

 

Vanessa Mesquita a única mulher do grupo diz que se sente lisonjeada, não foi rejeitada pelos colegas, muito pelo contrário todos querem ajudá-la. “É uma experiência muito boa, porque as mulheres, hoje, estão também trabalhando neste tipo de pintura, arte urbana. Eu me sinto muito feliz. Apesar de ter cometido um erro, há males que vêm para o bem e aqui estou eu aprendendo um negócio que sempre tive vontade, sonhava, mas não tinha oportunidade. Neste caso, um pessoal da Secretaria me ligou e me deu força. Já sei que vai acontecer outro curso de textura de parede”.

 

E brinca: vou fazer este também e vou começar pintando a minha casa. Sei que meu marido e família vão gostar. Este curso dá a oportunidade de não precisar de ninguém e eu não gosto de depender de marido. Lembra que o pessoal que picha muro, sujando a cidade deveria aproveitar o talento e fazer arte para o mundo.

 

Com participantes em várias situações de cumprimento da pena, Jonas Soares Uchoa é mais um integrante do curso de pintura. Ele expõe seu sentimento assim: “me senti com uma grande chance, apesar da gente ainda estar no cárcere estou aprendendo muito este desenho artístico, para entrar depois no mercado de trabalho, entrar na sociedade e ter um meio de ganhar o nosso sustento, sem precisar da vida do crime.”

 

“Sou um ex-viciado em droga, no crack, mas hoje busco Deus, que está mudando a minha vida, por completo. Eu pertenço à CPPLL II e faço parte do Projeto Renascer – um lugar de paz, de reconstrução, onde as pessoas estão reconhecendo que a vida do erro só traz destruição para a família, para o casamento. Este curso é uma grande oportunidade, que nunca foi visto em presídio algum. Presidiários no meio da rua, pintando, mas sem nenhuma tentativa de fugas ou algo deste tipo, mas sim querendo mostrar para a sociedade que existem diferenças entre presos”.

 

E conclui: “fazemos um apelo para os juízes e promotores das varas de execuções criminais que venham conhecer o nosso trabalho, que vejam novas chances para os presos e venham perceber as mudanças que Deus faz em nossas vidas. A minha pena é pequena e este curso traz a condição de eu ter um emprego, que depende só de mim e do meu talento.”