Mães: trajetórias de dedicação, competência e exemplo

10 de maio de 2025 - 07:29

Ser mãe é a vivência do amor sublime acompanhada dos desafios diários. Para muitas mulheres, especialmente aquelas que atuam em ambientes desafiadores como o sistema prisional, a maternidade se entrelaça com a responsabilidade profissional de forma intensa. Conciliar a criação dos filhos com a dedicação ao trabalho exige força, resiliência e, acima de tudo, uma entrega que muitas vezes passa despercebida. Entre turnos, rotinas exigentes e o peso das decisões diárias, elas seguem firmes, cuidando de quem amam e protegendo a sociedade.

Neste contexto, compartilhamos as histórias de duas mulheres inspiradoras: a policial penal Timóteo, que atua na unidade prisional feminina, e a colaboradora Carla Jéssica, que atua na parte administrativa da Secretaria. Dois relatos reais de superação, exemplo e amor que revelam a essência da maternidade no coração do sistema prisional do Ceará.

Entre o dever e o afeto: a jornada de Sandra, uma policial penal mãe

Há momentos que transformam a vida da gente de maneira única e irreversível. Para a policial penal Sandra Timóteo Figueiredo, conhecida como “PP Timóteo”, a vida sempre foi marcada pela busca incessante por seu propósito e vocação. Com 37 anos, ela construiu sua carreira no serviço público, focando em sua paixão pela segurança e justiça. Quase sete anos depois de ingressar na carreira de policial penal, sua trajetória reflete a força de uma mulher que, com determinação e coragem, encontrou seu lugar em um ambiente desafiador. Iniciou sua jornada na profissão em 2019, após ser aprovada em concurso, e logo foi lotada na Unidade Prisional Professor Olavo Oliveira II (UPPOO II), onde viveu desafios diários que a moldaram. Mais recentemente, passou a integrar a equipe da Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF), onde se dedicou à função que abraçou com todo o seu ser.

Mas o que Sandra não imaginava é que a maternidade, que sempre parecia um sonho distante, chegaria de uma maneira tão simbólica e transformadora. Em 12 de maio de 2024, no Dia das Mães, ela recebeu a notícia de que seria mãe. Um momento que, para ela, teria um significado profundo e inesquecível, não apenas pela alegria de descobrir que carregava uma nova vida em seu ventre, mas também pelo simbolismo de que, naquele dia especial, ela começaria a escrever uma nova história. Não era apenas o início de uma gestação, mas de uma nova fase em sua vida, onde o amor e a dedicação se expandiriam para além das muralhas de um presídio.

O nascimento de sua filha Nile, em 9 de janeiro de 2025, trouxe ainda mais significado ao seu primeiro Dia das Mães. Sandra, que sempre teve um amor imenso pela sua profissão, agora se via diante do maior de todos os desafios: equilibrar sua vocação de policial com o papel de mãe. A maternidade a ensinou a cada dia que o afeto, a paciência e a força interior são essenciais não apenas para proteger a sociedade, mas também para cuidar da pessoa mais importante de sua vida. Nile, com seus 4 meses de vida, é o milagre que Sandra tanto sonhou e, ao mesmo tempo, a força que a motiva a ser uma pessoa melhor, tanto no trabalho quanto em casa.

Neste primeiro Dia das Mães com Nile, Sandra reflete sobre tudo o que viveu até aqui, sobre as escolhas que fez e sobre o futuro que está construindo, não apenas para ela, mas para a filha que, um dia, entenderá a magnitude da coragem, do amor e da dedicação que envolvem ser mãe e profissional. Ela sabe que a jornada é desafiadora, mas também acredita que o afeto, o apoio e a força de uma mulher podem moldar o mundo de maneira surpreendente.

Durante a gestação, Sandra se viu dividida entre o desejo de seguir com sua profissão e os cuidados necessários para garantir o bem-estar de sua bebê. Graças ao apoio das colegas e da direção, foi possível adaptar sua rotina. Ao invés de sair de licença assim que descobriu a gravidez, como muitas mulheres fazem em sua profissão, ela ficou até os 8 meses de gestação. Passou por todo o período com o apoio de sua equipe e sentiu que era possível seguir sua carreira enquanto aguardava a chegada de Nile. Durante a gestação, foi transferida para o setor administrativo, evitando as atividades mais pesadas e as situações de risco.

O que Sandra não sabia é que, ao se tornar mãe, sua profissão tomaria um novo significado. “Eu me tornei uma pessoa mais empática, mais paciente, mais forte. A maternidade me tornou uma policial melhor”, ela diz, com um sorriso que traduz a intensidade da transformação. Ao mesmo tempo em que cuidava de Nile, aprendeu sobre o equilíbrio entre dar amor à sua filha e dar o melhor de si para a sua profissão. Para Sandra, ser mãe é uma forma de serviço. “Eu quero que ela olhe para mim e entenda que, ao vestir a farda, eu estou ali para proteger a filha de outra mãe, para servir a sociedade. Mesmo que isso signifique não estar com ela em todos os momentos.”

Sandra se emociona ao lembrar que foi justamente no Dia das Mães do ano anterior que soube da gravidez, um sinal de que o destino se alinha de formas misteriosas. “Esse Dia das Mães é muito simbólico para mim. É um marco. Eu sou muito grata a Deus por essa bênção que me foi dada. Ela é o meu milagre, minha razão de ser melhor a cada dia.”

Além da rotina de ser mãe e profissional, Sandra, que sempre teve um cuidado com sua saúde física e espiritual, acredita que o segredo para equilibrar todas as esferas da vida está no autocuidado. “Você precisa estar bem consigo mesma, cuidar da mente, do corpo e da alma. A maternidade é uma grande renúncia, mas também é um grande acolhimento. Para ser uma boa mãe e uma boa profissional, você precisa de apoio e afeto, e também de coragem para ser vulnerável, de pedir ajuda quando necessário. Só assim conseguimos seguir em frente com equilíbrio.”

A Sandra que entrou para a Polícia Penal em 2019 e a Sandra que hoje segura sua filha nos braços são, sem dúvida, mulheres diferentes, mas com um propósito ainda mais claro: servir. Para ela, a maternidade não diminui, ela acrescenta. “Quando minha filha crescer, quero que ela olhe para mim com respeito, saiba que a minha profissão é difícil, mas também é feita de muito amor. Quero que ela se orgulhe de ser filha de uma mulher que escolheu proteger, servir e fazer a diferença.”

E, ao olhar para a pequena Nile, Sandra diz: “Filha, que você sempre guarde em seu coração as memórias de cada dia que passamos juntas. E que você entenda que, mesmo nos momentos em que a mãe não estiver com você, estou sempre pensando em você, te amando, e desejando o melhor para a sua vida. Você é a coisa mais linda e mais importante que já aconteceu na minha vida. Eu te amo e vou te amar para sempre.”

Ser mãe e profissional: o equilíbrio de Carla Jéssica no cuidar e fazer

A colaboradora, Carla Jéssica, sempre teve uma forte conexão com a sua profissão. Aos 30 anos, com mais de uma década de experiência na Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização, ela se orgulha da trajetória que construiu. Como auxiliar técnico administrativa na Assessoria Jurídica, sua rotina é marcada pela organização de processos, comunicação eficiente e acompanhamento de estagiários. Um trabalho árduo e silencioso, mas essencial. Ela sempre se dedicou ao que faz, com a mesma dedicação com que cuidava da sua vida pessoal.

No entanto, quando a maternidade entrou em sua vida, algo profundo mudou. “A Carla de antes já amava o que fazia, mas depois de ser mãe, eu me tornei outra pessoa”, diz com um sorriso. “Mais sensível, mais empática. Passei a ver o trabalho de outra forma, mais completo e cheio de significados.”

Mãe de duas meninas — uma de seis anos e uma de um ano e meio — Carla aprendeu a equilibrar o delicado ato de cuidar e fazer, onde a profissão se cruza com o papel de mãe. Seu trabalho, que já exigia responsabilidade e cuidado, passou a ter outra dimensão após a chegada das filhas. “A maternidade me fez entender ainda mais o valor da organização e do planejamento. Na minha casa, as mesmas práticas do trabalho se aplicam. Cada momento precisa ser bem pensado para que tudo funcione, desde a chegada ao trabalho até a hora de dormir.”

Entre cuidar das filhas e o fazer o trabalho acontecer, Carla reflete sobre o impacto da maternidade em sua vida profissional. O cansaço das noites mal dormidas muitas vezes se mistura com as responsabilidades diárias da Assessoria, mas ela nunca deixa que isso abale sua paixão pelo trabalho. “A maternidade me deu uma visão diferente do trabalho. Antes, eu pensava em resultados, mas depois me tornei mais sensível ao processo, mais atenta ao impacto das minhas ações e decisões.”

Ao mesmo tempo, o trabalho também influenciou sua vivência de mãe. Carla fala com carinho sobre a responsabilidade que sente ao ser exemplo para suas filhas. “Eu quero que elas entendam o valor do trabalho, que saibam que podem escolher o que desejam fazer e que, para conquistar seus sonhos, precisam batalhar por eles. A maternidade trouxe para mim uma motivação extra. Eu não só trabalho para elas, mas também por elas, para que elas vejam a importância de ter uma profissão que amem.”

A rotina de Carla é uma mistura de organização meticulosa e dedicação. Ela compartilha com emoção como a ajuda da mãe tem sido fundamental para equilibrar os dois mundos. “Sem ela, tudo seria bem mais difícil. A minha mãe é a base dessa organização. Ela me ajuda com as meninas e com a casa, me permitindo trabalhar com mais tranquilidade.” E, mesmo com o apoio familiar, Carla sabe o peso que carrega: “O maior desafio é a ausência. Sei que estou perdendo momentos preciosos na vida das minhas filhas, mas sei também que o que estou fazendo é para elas. Para o nosso futuro.”

A empatia que Carla desenvolveu com a maternidade também se reflete na sua atuação no trabalho. “Ser mãe me fez mais sensível ao sofrimento do outro. Eu me coloco no lugar de quem está passando por dificuldades, e isso me faz querer ajudar ainda mais. Quando vejo os processos chegando ao meu setor, me lembro de como é importante ser parte de uma rede de apoio — seja como profissional ou como mãe.”

Sua trajetória na SAP é marcada pela busca constante de equilíbrio entre as responsabilidades profissionais e pessoais. E, a cada dia, Carla se dedica a ser a mulher, mãe e profissional que sonhou ser, com a certeza de que o cuidado e o fazer podem coexistir, sem que um anule o outro. “Eu sou muito mais feliz agora”, ela reflete. “A maternidade me trouxe uma força que eu não sabia que tinha.”

No final do dia, quando Carla chega em casa e é recebida pelos abraços das filhas, ela sente que todo o esforço vale a pena. Não é apenas um sorriso que a espera, mas o reflexo de seu propósito maior: ser uma mulher que, com cada desafio, continua a construir um legado para suas filhas. Uma mulher que, ao cuidar do outro, cuida de si mesma, e ao fazer, inspira aqueles que a cercam. “Ver o sorriso delas me dá forças para continuar. Ser mãe e profissional me completa.”