SAP e Secult realizam 1ª Mostra de Artesanato e Ressocialização do Ceará na Estação das Artes

28 de outubro de 2025 - 09:04

A Estação das Artes recebeu, no último domingo (26), a 1ª Mostra de Artesanato e Ressocialização do Estado do Ceará (MAR), evento promovido pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP) e da Secretaria da Cultura (Secult). A iniciativa celebrou a arte, o trabalho e a transformação social por meio das produções de artesanato desenvolvidas dentro das unidades prisionais, reunindo projetos que unem qualificação profissional, cultura e geração de renda para pessoas privadas de liberdade.

Durante o evento, o público pôde conhecer o “Arte em Cadeia”, projeto que se destaca na promoção da reinserção social e no fortalecimento da economia criativa no sistema prisional. As peças expostas demonstram o talento e a dedicação de cerca de 4 mil internos e internas envolvidos nas 24 oficinas produtivas mantidas pela SAP, distribuídas em 16 unidades prisionais do estado.

Além de promover a expressão artística, o artesanato prisional gera renda, qualificação profissional, autoestima e remição de pena, reafirmando o compromisso do Governo do Ceará com políticas públicas que transformam vidas. Parte das produções pode ser encontrada permanentemente em pontos de venda como a loja no Shopping Benfica, o espaço no RioMar Kennedy, a loja da Cetur e a tradicional Feirinha da Beira Mar.

Entre os destaques da programação, a mostra apresentou a exposição “Metamorfose”, composta por vasos que simbolizam o processo de transformação vivenciado pelos internos por meio da arte e do artesanato — uma representação da mudança de vida proporcionada pelas ações de ressocialização. Além disso, oito estandes apresentaram a diversidade das técnicas utilizadas nas oficinas, como crochê, macramê, bordado e tenerife, evidenciando a riqueza do trabalho artesanal produzido nas unidades prisionais.

O evento contou ainda com a apresentação emocionante do grupo “Acordes para a vida”, formado por internas da Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF), e atividades na brinquedoteca da Estação das Artes, onde o público pôde conhecer brinquedos confeccionados pelos internos artesãos.

Integrando a programação, o Mercado AlimentaCE recebeu a Feira Agroecológica do projeto de hortas implantado nas unidades prisionais pela SAP. Hortaliças, frutas e plantas medicinais produzidas pelos internos foram comercializadas durante o evento.

Toda a renda obtida com a venda das peças e produtos é revertida ao Fundo Rotativo do Sistema Penitenciário do Ceará, que financia programas de educação, capacitação e inclusão social. A mostra reforça o compromisso do Governo do Ceará, por meio da SAP e da Secult, com a humanização do sistema prisional e a construção de caminhos para um retorno digno e produtivo à sociedade.

O secretário da administração penitenciária e ressocialização, Mauro Albuquerque, fala sobre a mostra. “Ver o trabalho dos internos ganhando visibilidade e reconhecimento é motivo de grande orgulho para toda a equipe da SAP. Projetos como o Arte em Cadeia e as hortas nas unidades prisionais mostram que a ressocialização é possível quando unimos arte, educação e qualificação profissional. Cada peça produzida, cada alimento cultivado, representa não apenas o esforço de quem está cumprindo pena, mas também a esperança de um futuro mais digno. Nosso compromisso é continuar fortalecendo essas iniciativas, garantindo que mais internos tenham oportunidade de aprender, se desenvolver e contribuir positivamente para a sociedade”, atenta. 

A coordenadora de Inclusão Social do Preso e do Egresso (COISPE), Cristiane Gadelha, comemora o sucesso da mostra. “É uma emoção muito grande ver representado aqui tudo o que construímos dentro do sistema penitenciário. São mais de 11 mil pessoas estudando, trabalhando e se capacitando. Essa mostra é a concretização desse esforço coletivo, apresentando o melhor do artesanato produzido nas unidades prisionais. A palavra que define este momento é felicidade — e gratidão a todos que contribuíram para que ele acontecesse”, afirma.

A diretora da Estação das Artes,Uliana Lima, fala sobre o evento. “Celebramos com muito orgulho a chegada da Mostra de Artesanato e Ressocialização à Estação das Artes. A programação representa a essência do equipamento cultural e fortalece sua atuação como um espaço dinâmico que estimula a expressão, a participação e a reflexão da sociedade. A transversalização de políticas públicas é uma ferramenta poderosa que promove transformação social e combate desigualdades”, afirma. 

A musicista e visitante da 1ª Mostra de Artesanato e Ressocialização do Estado do Ceará (MAR), Marina Cavalcanti, elogia a ação. “Fico muito emocionada com essa iniciativa. Minha mãe é artesã, então o artesanato sempre fez parte da minha vida. Ver essas pessoas ressignificando suas histórias por meio da arte é algo que toca profundamente. Sempre faço questão de participar das feiras e adquirir esses produtos, porque sei que isso incentiva e dá continuidade a um trabalho lindo, que transforma vidas. Hoje mesmo garanti minha árvore de Natal de crochê — uma das peças mais bonitas que já vi”, disse. 

A visitante da 1ª Mostra de Artesanato e Ressocialização do Estado do Ceará (MAR), Rosilane Carneiro, parabeniza o projeto. “Eu achei o projeto incrível e muito emocionante. Todos merecem uma segunda chance, e ver pessoas privadas de liberdade transformando o tempo em arte e esperança é algo muito bonito. Eles colocam amor em cada peça, e isso é visível no resultado. Minha filha se encantou com a boneca e vai levar para casa um símbolo de renovação e de novas oportunidades”, concluiu. 

O artesão e egresso do sistema prisional, Thiago Fernandes, fala sobre sua experiência com o artesanato. “O artesanato transformou minha vida. Aprendi essa arte dentro do sistema prisional e, a partir daí, descobri um novo caminho. Hoje tenho meu próprio negócio e também trabalho pela COISPE, ajudando nas vendas das peças produzidas pelos internos. É gratificante ver o reconhecimento do nosso trabalho e saber que cada criação carrega uma história de superação e recomeço”, destaca.

A interna da Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF) e integrante do coral “Acordes para a vida”, Lúcia Nascimento, comemora a oportunidade. “A música me devolveu a esperança e me fez enxergar novas possibilidades. No coral, encontrei uma forma de expressar sentimentos e aprender algo que quero levar para a vida. Quero continuar desenvolvendo meu trabalho com voz e violão, me aprimorar e, quem sabe, um dia viver disso. Cada ensaio é uma chance de recomeçar com mais força e propósito”, compartilha. 

Sobre o “Arte em Cadeia”

No Ceará, o artesanato é uma das principais atividades oferecidas aos internos, que além de expressar seu lado artístico, desenvolvem novas competências profissionais e elevam a autoestima. A prática ainda contribui para a ocupação produtiva do tempo, a perspectiva de um futuro melhor e a remição da pena.

A Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização, por meio da Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso (Coispe), fomenta essas ações com o projeto “Arte em Cadeia”, promovendo cultura, qualificação e reinserção social para centenas de internos.

O projeto Arte em Cadeia envolve cerca de 660 participantes distribuídos em seis unidades prisionais no Ceará, que produzem mensalmente aproximadamente 2 mil peças artesanais, totalizando mais de 20 mil itens por ano. Essas peças são confeccionadas em 17 oficinas e comercializadas em diversos pontos de venda em Fortaleza, como Emcetur, RioMar Kennedy, Shopping Benfica, Feirinha da Beira Mar, Seduc, FIEC – Fórum Autran Nunes e Parque Adahil Barreto. Além disso, o artesanato produzido dentro do sistema prisional no Ceará tem um impactado mais de 2.600 internos e internas de 16 unidades prisionais. Além da capacitação profissional oferecida, que inclui o desenvolvimento de habilidades técnicas e artísticas, os internos têm direito à remição de pena, na qual a cada três dias trabalhados um dia é reduzido da pena total. 

As vendas geram recursos que são depositados no Fundo Rotativo do Sistema Penitenciário Cearense (FUROPEN), criado pela Lei Estadual nº 17.610, de 2021, e que financia a manutenção das unidades prisionais e ações de reinserção social. Dessa forma, o projeto não só promove a ocupação produtiva do tempo e a qualificação profissional dos participantes, mas também contribui para a sustentabilidade financeira do sistema prisional e a construção de oportunidades para a ressocialização.

Conheça sobre o Projeto das Hortas nas unidades prisionais 

O projeto de hortas desenvolvido pela SAP tem transformado espaços antes ociosos das unidades prisionais em áreas produtivas, promovendo ressocialização e contribuindo diretamente para o combate à insegurança alimentar no Ceará. Por meio do cultivo de hortaliças, frutas, plantas medicinais, além da criação de aves e da produção de peixes, a iniciativa já beneficia milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade, com doações regulares ao programa Ceará Sem Fome.

Atualmente, nove unidades prisionais participam do projeto, envolvendo diretamente policiais penais e internos. Os servidores atuam voluntariamente, fora do horário de expediente, em comissões compostas por 30 a 40 profissionais por unidade, responsáveis pelo planejamento, manejo e supervisão técnica das atividades agrícolas. Já a execução é realizada pelos internos — entre 10 e 20 por unidade — selecionados por critérios como bom comportamento, disciplina e aptidão para o trabalho.

A Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes (UP-Imelda) foi pioneira na implantação e serve como modelo para as demais. A produção mensal nas unidades pode chegar a 700 quilos de alimentos, destinados às cozinhas do programa Ceará Sem Fome conforme as necessidades nutricionais definidas pelo grupo Alimento Seguro. Entre os alimentos cultivados estão coentro, cebolinha, couve-manteiga, rúcula, capim-santo, berinjela, batata-doce, alface, tomate-cereja, pimentão, pimenta de cheiro, pimenta dedo-de-moça, erva-cidreira, macaxeira, açafrão e feijão verde.

Além da produção agrícola, o projeto contempla também a fabricação de caixotes de madeira utilizados nas campanhas de arrecadação do Ceará Sem Fome. Essa atividade é realizada por internos que participam de oficinas de marcenaria e serralheria, fruto da qualificação profissional ofertada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-CE), por meio do Projeto de Implantação de Oficinas Produtivas Permanentes (Procap 2019). Com isso, os participantes desenvolvem habilidades técnicas e têm acesso à remição de pena, direito garantido por lei que reduz o tempo de reclusão mediante trabalho ou estudo.