Ceará Credi proporciona oportunidade de recolocação e crescimento profissional de egressos do sistema prisional

16 de novembro de 2021 - 08:55

Ana Beatriz Sugette – Ascom Adece

Elaborado com o objetivo de contribuir para a criação e fortalecimento dos pequenos negócios no Estado por meio da concessão de crédito e capacitação, o Ceará Credi vem ganhando destaque pelo desempenho de um papel social e humanizado. Contemplados pelo programa de microcrédito produtivo orientado, os egressos do sistema prisional cearense conquistam a ressocialização com a geração de emprego e renda proporcionada pelo incentivo.

Conforme Francisco Rabelo, presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), à frente da operação do programa, a inclusão do grupo se deu a partir de uma articulação com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), responsável pelos egressos do sistema prisional.

“A articulação se deu ainda na estruturação do programa. Temos como foco nessa inclusão a geração de oportunidade e o estímulo para que esse público possa trabalhar por meio do seu próprio negócio. Muitos deles sofrem preconceito e rejeição na tentativa de entrar no mercado de trabalho formal com uma carteira assinada”, explica Rabelo.

Na legislação brasileira, o trabalho é destacado como importante fator de reinserção social de pessoas que passaram pelo sistema prisional. No Ceará, uma lei de referência em todo o País destina vagas de empregos a presos e egressos em empresas terceirizadas do Governo do Ceará. No entanto, a resistência ainda existe e caminha junto ao preconceito.

A coordenadora de Inclusão Social do Preso e do Egresso da SAP, Cristiane Gadelha, explica que há um acompanhamento do preso desde o encarceramento até a liberdade. “Vamos criando vínculos e eles nos procuram quando ganham a liberdade para se requalificar e serem encaminhados ao mercado formal de trabalho. Fazemos esse acompanhamento através do serviço social, de uma equipe de psicologia, para que possamos inseri-los”, relata.

Ainda de acordo com ela, durante as entrevistas, a equipe da SAP identifica também pessoas com vocações fora do emprego formal, interessadas em abrir seu próprio negócio. “Essas pessoas são encaminhadas para o Ceará Credi. Estamos bem felizes e vamos continuar fazendo o encaminhamento, tendo em vista que o mercado de trabalho formal também tem dificuldade de absorver”, completa.

Esperança vira realidade

É o caso da egressa Maria Aparecida Alves, de 43 anos. Há 1 ano e 4 meses em liberdade, a egressa conseguiu empréstimo de R$ 2.500 para alavancar o negócio de venda de roupas infantis e roupas íntimas em feiras. “Comprei muitas mercadorias, uma lona e uma barraca. Não preciso mais alugar. Comprei também fardamento, pois nos valorizam mais quando estamos padronizadas. Eu e minha companheira estamos trabalhando mais e vendendo todos os dias”, comemora. “Antes demorávamos um mês para comprar mercadorias. Agora, com um mês de empréstimo, já compramos duas vezes e vamos fazer a terceira compra”, completa.

Aparecida se diz agradecida e realizada pela confiança nunca antes depositada em sua boa vontade para realizar e pagar um empréstimo. “Não conto as vezes em que pensei em fazer um empréstimo e achei que não seria possível, tanto pelo preconceito quanto pela falta de renda fixa e de confiança. Quando estava presa, me perguntei várias vezes o que iria fazer quando saísse”, relata.

Em liberdade há 1 ano e 6 meses, o egresso Wallace da Cruz, de 51 anos, trabalha com buffet móvel e necessitava de um freezer para armazenar comidas e bebidas. De acordo com ele, o fato de não possuir conta em bancos tradicionais e os juros cobrados o impossibilitava de realizar empréstimo para alavancar o negócio. “Estava deixando de vender por não ter local para armazenar comidas. Agora, já vejo mudanças positivas. No último fim de semana, participei de três eventos, enquanto anteriormente fazia apenas um por semana”, conclui o cliente do Ceará Credi contemplado com um empréstimo de R$ 2.500.

A diretora de Economia Popular e Solidária da Adece, Silvana Parente, destaca o papel do Ceará Credi e a possibilidade de capacitar e promover a sustentabilidade dos pequenos empreendimentos. “A missão do Ceará Credi é exatamente esta. Criar oportunidade para que as pessoas mais pobres e excluídas do mercado de trabalho e do sistema financeiro possam trabalhar de forma digna e autônoma, gerando renda para o sustento de suas famílias. Além do microcrédito produtivo orientado por um agente de crédito, essas pessoas também têm acesso à capacitação empreendedora e educação financeira essencial para a sustentabilidade de seus negócios”, conclui.